06 janeiro 2013

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Livro 'Viagem Solitária' é um choque de humanidade, a luz sobre as construções de gênero; João Nery é o homem que eu quero ser

 

João Nery é o homem que eu quero ser, é o homem que todo ser humano quer ter. Esses foram alguns dos pensamentos mais simplistas que povoaram meus dias logo após ler "Viagem Solitária – Memórias de um transexual 30 anos depois" (Leya, R$40), livro humanista, reflexivo e autobiográfico.
Esperando em seu taxi literário – e real, já que ele também foi motorista – o professor de psicologia te convida para detalhes íntimos de sua vida e da sua construção em transhomem – um grupo invisível e pouco comentado por nossa sociedade. Em outras palavras, João nasceu no corpo de Joana, mas sempre teve a certeza de que era um garoto em busca da identidade real.
Na infância, sonhava em ser um super-herói, casar-se com uma princesa e ser pai. Na adolescência, investia pesado em exercícios físicos para se masculinizar e angustiava-se com a monstruação e o crescimento dos seios. Naquela época, não existia sequer o conceito de transexual e a incompreensão era como um mergulho em pregos.
Com as várias chagas abertas, tentou namorar um rapaz, vestir-se como mulher, agradar os familiares, mas não teve jeito. Sempre foi tão homem que até mesmo um homem homossexual, querendo ser comido por um hétero com H maiúsculo - tratou de flertá-lo durante uma corrida de taxi. Mandou um beijo e o chamou de lindo. Definitivamente, o sexo não está entre as pernas, está entre as orelhas!

Aos 27 anos, João era o tipo de homem que faria qualquer pessoa virar a cabeça. Tanto pelo físico quanto pelo modo respeitoso e sensível com que tratava o outro. Despertou paixões em diversas mulheres, investiu em casamentos e até realizou o sonho de ter um filho, Yuri. Mas como? Isso é segredinho do livro...



 

Por sua viagem, cicatrizou o corpo, sacrificou a profissão e ainda tomou um banho com álcool. Não há quem não sinta na própria pele as dores, as fragilidades e os traumas de autoafirmação do personagem da vida real. Não há quem não se surpreenda com tanta força e sensibilidade. Afinal, João é um transhomem diferente, feminista, apaixonante, um galã sem intenções, provoca lágrimas e nos dá vários tapas de consciência. É um despertar para a realidade. 
Após ler Viagem Solitária, tornei-me fã e quis ser João Nery. Seja pela transgressão das atitudes, pelo fascínio de encontrar forças frente aos obstáculos, pelo gás que envolve todos a sua volta, por promover um novo olhar sobre o ser humano ou por ir à busca de sua mais pura essência, me inspirei em sua figura. Gostaria de ser João Nery para um dia também super-herói e me orgulhar da minha história.
Mas, no fim, ele consegue adquirir 100% a identidade masculina? Eis a resposta em nossa recente entrevista: “Não virei homem, não! Eu sou um transhomem. Pois se eu me defino como homem hoje, eu estarei entrando nessa categoria hétero, no sentido de só existir homem e mulher. Além disso, eu adoro a Joana, de verdade, sem ela eu não teria chegado ao João. Comigo não tem esse negócio de “Vou apagar meu passado, quero esquecer que fui mulher”. Porra nenhuma! Eu acho ótimo. Se eu tivesse nascido em um corpo de homem, talvez tivesse virado um babaca qualquer”.

Que todos sejam João... Amém!



 

1 comentários:

Bárbara Aires disse...
Um ícone, uma referência!!! Um verdadeiro herói!! Muita gente não teria metade da coragem, parabéns!!
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