01 março 2013

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Laguna Dana Sunrise 1/3

VIAGEM SOLITÁRIA

Para além do interesse que a transexualidade possa despertar, o livro já vale por si. Uma obra literária. O autor chega ao ponto de recuperar estados de espírito por conta até do que fazia, do que dizia e do que pensava na cama neste ou naquele momento. Quer dizer, como é que ele vivia o sexo com um corpo diferente? E há várias citações literárias dele e de outros autores no começo dos capítulos.
 
Como é ser transexual? Pode ser, em parte, uma vivência especialmente sofrida. Bom, todos sofremos e há possibilidade de superação dos problemas. Mas no caso de Nery, a vivência é muito específica. Como fica a cabeça de um homem que tem vagina? O que é o desejo, à primeira vista, banal, de ser chamado, a todo custo, de João e não de Joana? Como é construir, muito mais por si próprio, sanidade mental e felicidade no meio de tudo isso?
 
Há um momento do relato em que Nery fala de um problema familiar que se tornou dramático o suficiente para que sua condição fosse associada à patologização e à condenação bíblica. Impensável, isso, no meio mais esclarecido de que o escritor sempre fazia parte.
Outra situação, oposta, é também dramática. Foi o esforço para encaminhar os trâmites de sua cirurgia. Coração a mil. Perder o ar quando começou a se informar melhor sobre transexualidade, psicoterapeuta temeroso, depoimento desfavorável da mãe, médico do coração, visita inesperada da sogra, etc.
 
Por fim, o espetáculo da sua relação com o filho. O filho o ama incondicionalmente no que diz respeito a ele ser transexual.
Em vista de uma vivência de décadas, vem bem a calhar o lançamento e divulgação desse livro no contexto de um debate bastante polarizado entre religiosos conservadores e movimentos de minorias. Principalmente agora em que o Pastor Marcos Feliciano chamou a AIDS de doença gay...
 
(Vai nessa, Nery!)

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