05 março 2013

Compartilhar

Oscar Santos17/1/2013
Concluí a leitura do Livro Viagem Solitária, de João Nery hoje, e é impossível não escrever sobre.
Bom, comecei a leitura há aproximadamente cinco meses. Cinco meses em que vivi um turbilhão nos campos profissional e afetivo, do qual me lev
anto agora meio “capengo” ainda. O que quero dizer é que as breves leituras da história do João nos tempinhos vagos que eu conseguia, me serviam como aquelas leituras de auto-ajuda. Sim, porque quando você está pensando que nada pode ser pior do que o que está vivendo, vai ler sobre outras vivências pra ver.

Meu grande amigo Icaro, que leu o livro antes de mim, me disse: “Bicha! É um livro de ler com o estômago!”. Complemento, é de ler com o estômago contorcido, querendo por pra fora todo o nojo de tanta repressão do SER.

Inúmeras vezes a leitura me causou náusea, mal-estar e muita emoção. Viver a agonia da espera por um laudo assinado por quem vai dizer o que você é ou não é, de acordo com a sua concepção de identidades pautada numa normatividade de gênero sufocante. O pânico, as dores, os efeitos de uma série de transformações corporais que submetem a situações constrangedoras, humilhantes. A dignidade parecendo ser toda retirada junto das mamas e do útero.

O João escreve de forma que te obriga a uma empatia impressionante. Ainda assim, mesmo que eu usasse de toda a empatia que ele provoca, eu jamais poderia dizer que faço ideia do que esse cara viveu.

Uma sensibilidade invejável. O João parece degustar o prazer não só da sua vida, com todos os horrores que viveu, mas o prazer das vidas que lhe cercam. Acredito que estas foram a maior fortaleza dele ao longo de tantos anos, pelo que demonstra na obra. E o carinho pelo filho que, como disse: “escolheu para amar”, é algo que espero um dia conhecer.

Morremos de medo da velhice. É ótimo encontrar uma passagem do poema “Velhice”, do João, que diz: “Dá-me, enfim, a ousadia necessária de me ver gargalhar, com a dentadura a gargalhar dentro do corpo.” Sem exageros, eu me sinto revitalizado pela vontade que esse cara tem de viver!

Nenhum comentário: